O Que Acontece Quando Você Consome Alimentos Ultraprocessados Durante Um Mês?
O apresentador de televisão da BBC, Dr. Chris van Tulleken, consumiu uma dieta baseada em 80% de alimentos ultraprocessados.
Em quatro semanas, ele ganhou por volta de 7kg, perdeu o sono, ficou ansioso, teve uma queda na libido e se sentiu 10 anos mais velho
Biomarcadores (marcadores biológicos) também mostraram que seu cérebro criou novos atalhos, os quais aumentaram o risco de comer de forma repetida como a resposta do cérebro ao tabaco e ao álcool.
A dieta aumentou seu hormônio da fome (grelina) em 30%, fazendo com que ele comesse mais rápido
Os produtos ultraprocessados estão relacionados à obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardíacas, câncer e um risco aumentado de mortalidade por todas as causas; a doença metabólica também aumenta o risco de problemas graves e de contrair COVID-19.
Por Dr. Mercola
Não é de se surpreender que fazer uma dieta contendo muitos alimentos ultraprocessados não seja saudável. Pesquisas demonstraram que alimentos ultraprocessados podem aumentar sua ingestão calórica e ganho de peso.
Dados coletados de 2009 a 2010 na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, mostraram que os alimentos ultraprocessados representaram por volta de 57,9% da ingestão de energia dos americanos e que o açúcar contribui com 89,7% da ingestão de energia.
Em 2019, um estudo publicado na revista Nutrients descobriu que cerca de 71% dos produtos embalados no supermercado eram ultraprocessados.
Pesquisadores da Northwestern Medicine estimam que quase 80% do total de calorias consumidas pelos americanos vêm de alimentos e bebidas comprados em lojas.
Os pesquisadores também compararam o suprimento de alimentos nos EUA com outros países ocidentais como a Austrália, descobrindo que os alimentos embalados que os americanos comiam tinham maiores quantidades médias de açúcar e sal.
Esses alimentos contribuem para o aumento do nível de obesidade em todo o mundo.
A Organização Mundial de Saúde relatou que a obesidade mundial triplicou desde 1975. A taxa de sobrepeso e obesidade está aumentando cada vez mais rápido nos EUA. Dados coletados de 1999 a 2000, depois, de 2017 a 2018, mostram que a predominância da obesidade aumentou de 30,5% para 42,4%.
Nos mesmos períodos, a predominância da obesidade grave passou de 4,7% para 9,2%.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças relataram que, em torno de 2017 a 2018, a predominância da obesidade foi de 19,3% em crianças e adolescentes em torno de 2 a 19 anos. No entanto, além de ter sido demonstrado pelos dados, um repórter da BBC ilustrou que aquilo o que você come é um fator essencial para a sua saúde.
O repórter da BCC consumiu apenas alimentos ultraprocessados durante um mês
O apresentador de televisão da BBC, Dr. Chris van Tulleken, estava interessado em saber o que aconteceria se ele mudasse sua dieta por apenas um mês. Tulleken, apresentador de “Com o que estamos alimentando nossos filhos?” estava curioso sobre como os alimentos ultraprocessados afetam nossos corpos.
A BBC informa que no Reino Unido, assim como nos EUA, mais da metade da energia média dos alimentos na dieta vem de produtos ultraprocessados.
Em torno de um mês, Tulleken de 42 anos, aumentou sua ingestão diária de produtos ultraprocessados de 30% para 80%, imitando 20% de uma dieta consumida no Reino Unido.
Ao final de quatro semanas, Tulleken experimentou uma grande quantidade de mudanças em sua saúde, incluindo:
“Eu me senti dez anos mais velho, porém não percebi que era tudo por causa da comida até que parei de fazer a dieta”, disse Tulleken à BBC. Isso é revelador, visto que o médico mudou de propósito sua dieta e ainda assim não reconheceu que sentir-se 10 anos mais velho em um mês estava associado à comida que consumia.
Seria muito mais difícil convencer outras pessoas de que a maneira como se sentem está relacionada aos produtos químicos que estão consumindo?
À medida que estava ganhando peso, ele acreditava que se continuasse durante seis meses teria ganho 6 quilos.
Esses foram os efeitos relacionados à saúde que Tulleken pôde identificar, sem fazer testes. Ele também se submeteu a várias medições de marcadores biológicos de saúde, que demonstraram mudanças significativas em apenas quatro semanas de ingestão de alimentos ultraprocessados.
Varreduras cerebrais mostraram que a dieta criou novos elos em seu cérebro entre áreas que são responsáveis pela recompensa e as que conduzem o comportamento automático e repetitivo. Esta é uma resposta semelhante ao consumo de substâncias viciantes como tabaco, álcool e drogas.
As mudanças cerebrais que ocorreram no curto período de tempo em que Tulleken consumiu grandes quantidades de produtos processados não foram permanentes.
No entanto, não é possível fazer a mesma suposição caso a dieta seja seguida por meses ou anos. Além disso, Tulleken aponta “se ela pode fazer isso com meu cérebro de 42 anos de idade em quatro semanas, o que está fazendo com o frágil cérebro em desenvolvimento de nossos filhos?”
Você come mais quando consome alimentos ultraprocessados
Tulleken também descobriu que consumia cerca de 500 calorias a mais por dia antes de iniciar a dieta ultraprocessada. Isso foi coerente com um estudo do National Institutes of Health conduzido por Kevin Hall, Ph.D., pesquisador sênior do Programa de Pesquisa Intramural do NIH. Na pesquisa de Hall, ele comparou duas dietas pelo teor de macronutrientes, açúcar, sal e fibra de cada uma.
Uma dieta consistia em cerca de 80% de produtos ultraprocessados e a outra era uma dieta não processada. O grupo consumiu a dieta ultraprocessada durante duas semanas e depois trocou para a dieta não processada, enquanto foi admitido e monitorado no NIH Clinical Center.
Os participantes foram encorajados a comer a quantidade que quisessem. Os cientistas descobriram que quando os participantes ingeriram a dieta ultraprocessada, consumiram mais carboidratos, mas não ingeriram proteína. Nas duas semanas de pesquisa, os participantes que tiveram uma dieta ultra processada ganharam em média 900 gramas e, depois, quando ingeriram a dieta não processada, perderam a mesma quantidade de peso.
A BBC relatou que a equipe de Hall também mediu biomarcadores hormonais responsáveis pela sensação de fome e saciedade. Como você poderia esperar, o hormônio responsável pela fome (grelina) aumentou e aquele responsável pela sensação de saciedade (leptina) diminuiu enquanto os participantes comiam os produtos ultraprocessados.
Esses resultados foram consistentes com a experiência de Tulleken, pois seu nível de grelina aumentou 30% durante as quatro semanas em que ele comeu produtos ultraprocessados.
Naquele mês, ele começou a desejar comida com mais frequência e comer mais rápido, o que pode ter contribuído para comer mais.
O que é classificado como um alimento ultraprocessado pode surpreendê-lo.
O NOVA classifica as categorias de alimentos de acordo com a extensão e finalidade do processamento e não em termos de nutrientes encontrados nos alimentos. O NOVA é reconhecido como uma ferramenta válida para a pesquisa em nutrição e saúde pública e é usado em relatórios das Nações Unidas e da Organização Pan-Americana da Saúde.
De acordo com a NOVA, os alimentos e bebidas ultraprocessadas contém formulações industriais, podendo ter cinco ou mais desses tipos de ingredientes.
Embora esta lista abaixo não seja completa, ela oferece uma visão sobre os tipos de alimentos considerados ultraprocessados.
Como você pode ver, alguns são produtos exibidos como uma opção alimentar saudável como cereais matinais, barras energéticas e iogurte de frutas.
Alimentos Ultraprocessados Aumentam Risco de Doenças
Vários estudos identificaram riscos de doenças associados ao consumo de alimentos ultraprocessados. Em um estudo, os pesquisadores coletaram dados sobre a ingestão alimentar de 105.159 participantes. O principal resultado medido foi o risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
O tempo de acompanhamento médio dos participantes foi de 5,2 anos, durante o qual os pesquisadores descobriram que a ingestão de alimentos ultraprocessados estava de fato associada a um maior risco de doenças cardiovasculares.
Os resultados foram significativos do ponto de vista estatístico, mesmo após o ajuste para marcadores de qualidade nutricional e uma grande variedade de análises de sensibilidade.
Como Telleken experimentou e muitos estudos relataram, uma dieta rica em alimentos ultraprocessados aumenta o risco de obesidade. Por sua vez, de acordo com os relatórios dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, a obesidade aumenta o risco de um adulto contrair muitas doenças graves, incluindo:
Uma das principais causas de morte que os pesquisadores associam à ingestão de produtos ultraprocessados é o câncer. Contudo, o mecanismo do metabolismo nas células cancerígenas é claro e baseado nas descobertas do Dr. Otto Warburg, um bioquímico de formação clássica que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1931 por sua descoberta da natureza e ação do metabolismo das células cancerosas.
Há décadas, o tabagismo ocupa o 1° lugar nas causas prováveis de câncer. No entanto, a obesidade não fica muito atrás. De acordo com o Dr. Otis Brawley, professor de oncologia na Universidade Johns Hopkins e ex-diretor médico da American Cancer Society, nos próximos 5 ou 10 anos, a obesidade pode ultrapassar o tabaco.
Em comparação com uma faixa de peso normal, a obesidade aumenta a probabilidade de ocorrência de câncer e está associada a uma menor probabilidade de sobrevivência.
Embora a associação exata entre o câncer e a obesidade não seja compreendida em sua totalidade, os pesquisadores estão se concentrando em estudar a gordura visceral, já que ela é metabolicamente ativa e pode estimular o crescimento celular.
Doença metabólica aumenta o risco de COVID-19
Como Telleken descobriu, os alimentos ultraprocessados são criados para serem atraentes, hiperpalatáveis e viciantes. Isso tudo devido a aditivos, embalagem, marketing engenhosos e “conveniência”.
Esses produtos ultraprocessados são preenchidos com calorias vazias e desprovidos de vitaminas, minerais, enzimas hepáticas, micronutrientes, gorduras e proteínas de alta qualidade.
O Dr. Aseem Malhotra é cardiologista honorário do Lister Hospital em Stevenage, Inglaterra. De acordo com um artigo que ele escreveu no European Scientist, alimentos ultraprocessados causam:
“… doença metabólica crônica que pode afetar muitos de peso “normal”. Além disso, a obesidade sarcopênica pode resultar na classificação incorreta de muitos pacientes idosos com IMC normal durante a admissão hospitalar por COVID-19 … Não existe essa coisa de peso saudável, apenas pessoas saudáveis.
Um comentário recente da In Nature afirma que “pacientes com diabetes tipo 2 e síndrome metabólica podem ter até 10 vezes mais risco de morte quando contraem COVID-19” e solicita o controle glicêmico e metabólico obrigatório de pacientes com diabetes tipo 2 para melhorar os resultados.”
Desde a afirmação de Malhotra’s no início de 2020, vários estudos que foram publicados mostraram como comorbidades como obesidade e diabetes tipo 2 aumentam o risco de COVID-19 com complicações e piores resultados.
Isso sugeriu aos cientistas que a síndrome metabólica e as consequências dela podem ser um “indicador de melhor prognóstico” para desfechos graves do que os componentes individuais da síndrome.
Sua dieta é um fator conclusivo na saúde e longevidade
Como décadas de dados demonstraram, os alimentos que você ingere são um fator-chave, um indicador de prognóstico de sua saúde geral e longevidade esperada.
Sem dúvida, existe uma grave epidemia de saúde mundial, e não é o COVID-19.
A epidemia de obesidade não tem uma resposta rápida e fácil; grande parte dela está ligada à dieta alimentar. As consequências dessa condição de saúde são de longo alcance e podem ser letais.
É importante lembrar que a sua alimentação é a base sobre a qual sua saúde é construída.
Portanto, consumir uma dieta de alimentos processados é uma receita para um desastre de longo prazo. Se você tem acesso a alimentos de verdade, é importante reservar tempo para prepará-los e aproveitar as sobras da melhor forma possível.
Com um pouco de dedicação e planejamento, também é possível cultivar alimentos em pequenos espaços, incluindo dentro de casa.
É possível consumir uma dieta baseada em 90% de alimentos reais e 10% ou menos de alimentos processados.
Isso pode fazer uma diferença significativa no controle de peso e na saúde geral.
Leia Também:
Os 18 alimentos mais viciantes (e os 17 menos viciantes)
Aditivos alimentares artificiais
Capacitação EAD
Todo o conteúdo deste artigo é baseado nas opiniões do Dr. Mercola, salvo indicação em contrário. Os artigos individuais baseiam-se nas opiniões dos respectivos autores, que retém os direitos autorais conforme indicado. As informações contidas neste site não se destinam a substituir a relação individual com um profissional de saúde qualificado e não devem ser consideradas como um aconselhamento médico. Sua finalidade é compartilhar o conhecimento e as informações adquiridas das pesquisas e experiências do Dr. Mercola e sua comunidade.
O Dr. Mercola incentiva você a tomar suas próprias decisões de saúde com base em suas pesquisas e em conjunto com um profissional de saúde qualificado. Se você estiver grávida, amamentando, tomando medicação e/ou tiver uma condição médica, consulte o seu médico ou profissional de saúde antes de usar produtos e/ou conceitos baseados neste conteúdo.