Projeto quer Selo para Venda do Feijão Orgânico
Após 10 anos de pesquisa, projeto quer selo para fortalecer venda do feijão orgânico cultivado no AC.
Pesquisas começaram em 2009 e o grupo avaliou as formas de cultivos e as principais são o feijão comum e o caupi.
Após dez anos de trabalho e levantamento de informações, um grupo de pesquisadores que acompanha a produção de pelo menos 25 variedades de feijão no município de Marechal Thaumaturgo, no interior do Acre, apresentou um projeto para fortalecer a produção e agregar valor de venda ao produto orgânico por meio de selos de qualidade.
O projeto foi apresentado em ofício, no final de junho, a pelo menos cinco órgãos tanto do estado, quanto do município, com a proposta de que seja feito o plano para agregar valor e expandir para o comércio, já que atualmente a produção não tem a finalidade comercial.
As pesquisas começaram em 2009 e o grupo avaliou as formas de cultivos. As principais são o feijão comum e o caupi, também conhecido como feijão de corda, produzido em regiões de praia. O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), Instituto Federal do Acre (Ifac) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“São feijões que a gente chama de cultivares crioulos ou tradicionais, que é aquele cultivar que não é comercial. O agricultor guarda de safra para safra e vimos que tinha uma diversidade muito grande de feijões nessa região de Cruzeiro do Sul, especialmente em Marechal Thaumaturgo”, informou um dos pesquisadores Eduardo Mattar.
Tradicional na Região
O feijão já é uma tradição no município e é fonte de renda de boa parte dos agricultores. São pelo menos 150 produtores que na última safra chegaram a produzir cerca de 62 toneladas do grão, segundo informou o presidente da cooperativa, Altermir Firmino.
Para ele, o selo representa uma grande mudança para os produtores que podem ver o preço do produto ser dobrado, caso consigam atender aos requisitos. O preço de venda hoje tem sido em média de R$ 8 e pode chegar a R$ 16.
“Vai dar uma valorizada quando chegar ao mercado e o Sebrae afirmou que vai disponibilizar um técnico que vai estar à nossa disposição para trabalhar nisso. A proposta é interessante porque o nosso município produz grande quantidade e variedade de feijão”, diz.
O sonho é ir mais longe. O município já é conhecido por ser produtor de feijão e agora eles querem expandir esse produto e fazer a economia girar.
“Hoje ainda temos dificuldade por causa do selo e das embalagens, já que a exigência do mercado é grande. Acredito que com o selo o preço do nosso feijão dobre”, conta.
O feijão do Juruá já é conhecido na região e também já fez parte de exposições, festivais e, em 2016, teve um e-book lançado no qual contava uma parte importante sobre o feijão regional desde sua produção e colheita até a defesa de pragas.
“Feijões do Vale do Juruá”, nome dado ao e-book, já mostra as formas de cultivo tradicional praticado na região com pelo menos 25 tipos diferentes.
Já em 2017, a Cooperativa de Feijão de Marechal Thaumaturgo participou da 44ª edição da Expoacre, em Rio Branco, onde no espaço ‘Fazendinha’ fez a exposição do produto e foram exibidos sete tipos de feijão diferente.
Potencial
O pesquisador Eduardo Mattar disse que ao longo dos anos foi observado o potencial da região que pode oferecer um feijão com valor agregado, tanto por ser produzido por populações tradicionais como também por ser um produto orgânico.
“Fizemos um documento da equipe porque vemos que tem um potencial muito grande de agregar valor a esse feijão do Juruá. Não vemos ele como um feijão para competir com esse carioquinha, que é produzido fora e de forma irrigada, uma produtividade muito grande e que chega com um preço mais em conta, mais barato, um feijão com baixo valor agregado, no qual utilizado adubo químico, inseticida, etc”, compara o pesquisador ao dizer que o feijão do interior do Acre é “nobre”.
A sugestão inicial dos pesquisadores é que seja feito um levantamento de todos os agricultores, os cultivares que eles produzem e a distância para o galpão da cooperativa para que seja feito um plano de negócio da cadeia do feijão e saber um valor mínimo que tem que custar e quanto de investimento precisa ser feito para ter um valor agregado, como uma boa embalagem, por exemplo.
“A gente entende que esse feijão já tem que sair de lá em uma embalagem a vácuo porque o grande entrave que a gente enxerga é que o feijão é produzido de forma orgânica, tem insumos internos, só que muitas vezes, na pós colheita devido a pragas que atacam o armazenamento, eles acabam utilizando inseticida químico”, explica.
Certificado
Com o produto embalado e a garantia de ele ser orgânico, a outra sugestão dos pesquisadores é que ele tenha os selos de qualidade necessários para agregar valor.
Os selos com potencial de certificação são três: ser produto orgânico; indicação geográfica, de origem, ou seja, que é produzido sob um sistema tradicional em uma região com população tradicional e o selo da agricultura familiar.
“A gente propõe isso baseado nas nossas pesquisas, que a cadeia produtiva deve ser fortalecida. Entendemos que para isso deve ser feito um plano de negócios e que nesse plano sejam consideradas essas três certificações, visando agregação de valor para pegar mercados diferenciados, no qual as pessoas comprem não só um feijão, mas também uma história. Tendo em vista que esses agricultores prestam serviços ambientais, tanto pela conservação dos recursos genéticos como também das florestas primárias”, complementa.
Além de buscar mercado diferenciado, a ideia é que o governo também pode fomentar a compra por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAI). “Essas políticas já existem e nossa equipe entende que tenham muito valor para municípios isolados”, conclui.
Reunião
A gestora de atividades de agronegócio do Sebrae, Laiz Mappes, disse que já existem possíveis compradores que podem fechar negócio para arcar com toda a produção. Mas, a única exigência é a certificação orgânica.
“Ele tem o diferencial que é 100% da produção orgânica, a gente só tem que provar. Estamos com uma analista e vamos ter a primeira reunião para falar com a cooperativa sobre todo o processo”, disse sobre os próximos passos.
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Por Alcinete Gadelha, G1 AC — Rio Branco